sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Tony the only


Receita para superar o baixo-astral: pegue uma amiga querida, dois integrantes da Terceira Idade que ainda não ficaram, e vá com eles a um show do Tony Bennett.

Misture isso a uma garrafa de prosecco, uma tábua de frios e agora só falta o show começar.

Aos 83 anos, o crooner mór (já que Sinatra morreu) sobe ao palco. Quem ainda se apresenta de forma tão elegante, vestindo um belo terno azul?

Tony é muito simpático, cheio de vitalidade, dá adoráveis rodopiadinhas no palco, é capaz de cantar "Fly me to the moon" a capella.

Quando canta "Smile", ele sorri; quando vai de "The way you look tonight", finge que há uma mulher ali e canta admirando-a. Interpreta mesmo a música, entendem? Claudio Botelho e Charles Muller estavam na plateia e aprovaram.

Como também não curtir? Vendo Tony, e o casal ao meu lado; ele, um querido, doce, querendo levá-la para morar no meio do mato, onde vive apenas com um cachorro.

Ela, ainda uma femme fatale de lindos olhos verdes, ex-miss Cabo Frio, claro, se recusa, me diz ter a esperança de encontrar coisa melhor do que um marido do meio do mato, já acabadinho. Mas não deixa de jogar o maior charme para ele, que finge não entender. Mulheres... Não somos todas iguais?

Mas pensei mesmo foi em envelhecer. De um lado, a vitalidade de Tony Bennett, deve ser muito bom fazer o que se gosta para sempre, o tempo, assim, deve passar mais devagar _ como quando a gente faz uma viagem, os dias não passam devagar à beça, não rendem?

Uma semana passeando pela Big Sur pode trazer muito mais riqueza para o espírito do que semanas em casa, trabalhando, se estressando, ou tendo seu coração partido devido aos inúmeros obstáculos que o cotidiano acaba nos apresentando.

Do mesmo lado, várias senhoras e senhores da Terceira Idade, como o casal ao meu lado, também cheios de vida, também querendo amar, também cantando "Smile though your heart is aching / Smile even though its breaking ...".

E muitas moças de 60 ou mais fumando seus cigarrinhos, curtindo o momento _ tenho uma amiga que aos 30 anos parou de fumar, mas disse que vai voltar quando tiver 70, "porque aí posso morrer fumante, aos 90", achei isso incrivel.

Do outro lado pessoas como a minha avó, nascida em 1923, que até ontem era cheia de vitalidade, e de repente caiu. Anda tão tristinha, tristinha, aliás, como eu estava naquela noite do show do Tony.

Mas vendo o sacolejo do Tony, as velhinhas fumando, a miss Cabo Frio azarando, pensei: quando encontrar minha avó domingo vou fazer uma coisa, mandá-la sorrir.

Porque eu comecei a sorrir bastante depois de ontem, há de ser ter esperança.

P.S: "Tony the only!", minha amiga gritava da plateia, alternando a empolgação aos assobios poderosos que ela sabe dar. "Como você assobia bem, eu disse". Ela: "isso que dá ter sido criada no Catete".

Quando Tony vai de "For once in my life, I have someone who needs me...", minha friend ainda manda esta: "Vou me casar com esta música!"

Há de ser ter esperança.